“Tango Negro - As raízes africanas do Tango” é o título do novo filme do realizador angolano Dom Pedro, cuja estreia aconteceu segunda-feira numa das salas da sede da UNESCO, em Paris.
Durante o lançamento do filme, que contou com o apoio do Ministério da Cultura, o embaixador delegado de Angola junto da UNESCO, Diakumpuna Sita José, considerou o filme uma valorosa expressão da negritude do tango, reflectindo a vida social dos escravos que foram levados para a América do Sul, particularmente para Argentina e o
Uruguai.
“Evidentemente, podemos reparar a incidência terminológica de palavras provenientes da língua kikongo como “ntango” que significa tempo ou sol, que durante muito tempo serviu de orientação para interpretar a progressão da hora e, por outro lado, “ndombe” que quer dizer homem negro, bem como “nlongo” que quer dizer remédio ou medicamentos”, precisou o diplomata angolano em associação à própria palavra “tango”.
Sita José lembrou que os escravos que se instalaram nestes dois países eram maioritariamente provenientes da África central, particularmente dos países que hoje ocupam o espaço do antigo reino do Kongo.
A cerimónia contou, entre outros, com a presença de especialistas e diplomatas de países junto da UNESCO, com destaque para os embaixadores daqueles dois países da América do Sul.
Para Miguel Ângelo Estrela, da Argentina, muitos autores escreveram sobre o tango enquanto estilo de música e dança, porém, poucos se preocuparam em buscar a sua génese nos bairros de Montevideu e Buenos Aires graças aos escravos no século XVIII e XIX que posteriormente se cruzaram com os emigrantes europeus, principalmente os italianos e espanhóis que ali se instalaram.
Por seu turno, Omar Gonzalez, embaixador do Uruguai em França e na Unesco, considerou que o documentário é uma excelente forma de promoção dos afrodescendentes.
“Não é apenas um documentário, é uma reflexão profunda sobre a vida, sobre a nossa comunidade de gentes anónimas que criaram a nossa história, a nossa identidade” - referiu.
Seguidamente a projecção do filme, houve um debate onde a plateia colocou algumas questões sobre o conteúdo do filme e o processo de produção que contou igualmente com o apoio da TV5 Monde. Dom Pedro lembrou que a ideia do filme surgiu em 1990, mas apenas em 2003 começou as pesquisas que culminaram neste documentário que mereceu uma ovação geral.
O filme foi filmado em França, Argentina e Uruguai e conta com depoimentos de especialistas no assunto, além de um grande testemunho de Juan Carlos Carceres, que é um dos grandes pianistas de Tango da Argentina.
Segundo o director-adjunto para a Cultura da UNESCO, Francesco Banderine, é o carácter universalista do tango que fez com que este órgão especializado das Nações Unidas tivesse o classificado como património cultural imaterial da humanidade.
Dom Pedro prepara-se agora para a apresentação do filme no Uruguai e em alguns festivais de cinema na Europa, Brasil e Canadá.
(site : W W W. IMAGES-SONS-ANGOLA. COM)